Ceratocone – Sociedade Brasileira de Córnea 2022

CERATOCONE – SOCIEDADE BRASILEIRA DE CÓRNEA 2022

Habitualmente, a córnea é o tecido transparente apresenta um formato esférico e regular simulando uma janela na frente dos nossos olhos. Esse formato é mantido por uma série de fibras de proteínas chamadas de colágeno. quando essas fibras se tornam fracas o formato arredondado da córnea pode ser mudado para um formato irregular tipo cone, no caso do Ceratocone. Além da mudança do formato com encurvamento é comum ter associado o afinamento da córnea.

A córnea funciona com uma lente e permite o foco adequado das imagens. Com a alteração do seu formato as imagens são formadas distorcidas. Isso acontece devido a indução de aberrações nas imagens em geral relacionadas a um alto astigmatismo irregular.

A incidência dessa doença, ou seja quantidade de casos que surgem por ano, é 2 casos por 100.000 habitantes. Entretanto, diversos avanços tecnológicos na área de córnea e cirurgia refrativa que hoje permitem uma melhor avaliação favorecem o diagnóstico precoce e uma maior clareza na identificação dessa doença.

Ainda não é bem definido a causa que leva ao surgimento do ceratocone, entretanto diversas condições estão associadas.

1.       Predisposição genética: indivíduos com parentes que apresentam a doença tem um risco maior de desenvolver essa condição. Importante sempre que algum familiar apresentar o diagnóstico ou suspeita da doença que os demais membros da família também sejam avaliados pelo médico oftalmologista.

2.       Idade: a alteração no formato da córnea acontece em uma idade mais jovem, em geral crianças e adolescentes apresentam uma maior chance de evolução.

3.       Alergia e o ato de coçar os olhos: fator determinante no surgimento e evolução do ceratocone. O trauma de coçar constante o olho apertando a córnea pode favorecer ao enfraquecimento das fibras. Importante ressaltar a atenção redobrada a crianças com quadro de conjuntivites alérgicas de repetição.

4.       Doenças associadas: certas condições como Síndrome de Down, Síndrome de Ehlers-Danlos, osteogenesis imperfeita e retinose pigmentar apresentam uma frequência maior de pacientes com ceratocone.

 Os principais sinais do surgimento dessa condição é redução da visão devido ao astigmatismo irregular. O astigmatismo nesses casos produz imagens com sombra podendo afetar a visão para longe e para perto. Com a progressão do quadro é frequentemente observado o aparecimento de miopia, tornando ainda mais difícil a visão para longe.

Outros relatos comuns dos pacientes são: visão dupla monocular (quando apenas um olho é avaliado), distorção do alinhamento de imagens, fotofobia com a presença de halos/glare e imagens fantasmas. Essas alterações podem comprometer de forma significativa a rotina diária dos pacientes.

O diagnóstico dessa condição deve ser feito pelo médico oftalmologista que durante a sua avaliação é capaz de definir seu grau e usando exames complementares para medir espessura (paquimetria e tomografia de coerência óptica -OCT) e avaliar o formato da córnea (topografia e tomografia de córnea).

Os exames modernos e atuais permitem uma avaliação completa da superfície da córnea, evidenciando detalhes de formato como assimetria e regularidade da córnea. Vários indicadores podem ser construídos por esses exames, sendo possível um caracterização mais precisa de cada paciente.

Com diagnóstico definido é possível programar de forma adequada o intervalo necessário para acompanhamento de cada caso específico e iniciar tratamentos que podem retardar ou impedir a evolução do quadro, como também procedimentos para melhorar a qualidade da visão seja através de óculos, lente de contato, procedimento de implante de anel intracorneal e as diversas modalidades de transplantes.

Sobre as modalidades de procedimentos, destacam-se:

1.       Anel intracorneal: consiste na implantação de um dispositivo de formato circular que tem o a função de alterar o formato da córnea permitindo uma maior regularidade. Apesar de não ser um procedimento com foco em correção do grau, em muitos casos é possível ter redução do grau de astigmatismo e/ou miopia.

2.       Crosslinking: com aplicação de um colírio a base da vitamina B Riboflavina associada a exposição a uma radiação controlada de UVA, esse procedimento tem o objetivo de fortalecer as fibras de colágeno tornando a córnea mais resistente e menos propensa a progressão do encurvamento. Com o aumento de sua rigidez é possível observar aplanamento da córnea.

transplante de córnea é uma cirurgia que apresenta bons resultados, permitindo, em geral, a reabilitação visual nos quadros mais avançados. Os transplantes podem ser realizados com a substituição total ou parcial da córnea.

O transplante penetrante é a técnica mais tradicional que remove uma área circular central da córnea, substituindo a córnea com ceratocone, por um enxerto transparente substituindo todas as camadas da córnea. Para a fixação do enxerto são necessários suturas que serão removidos no decorrer do acompanhamento pós operatório.

Atualmente, a técnica mais moderna para muitos casos de ceratocone é o transplante lamelar anterior. Neste procedimento é feita a substituição da parte anterior da córnea, permanecendo as camadas mais internas e preservando o endotélio (camada mais interna) do próprio paciente. Diversas abordagens podem ser feitas para remoção da parte anterior da córnea, sendo o DALK (Deep Anterior Lamelar Keratoplasty) pelo técnica de “big bubble” o mais difundido. Nessa técnica uma camada de ar é injetada na parte profunda córnea para promover a separação da parte mais anterior que será substituída pela córnea doada.

Outras técnicas de transplante ainda podem ser utilizadas como o transplante da camada de Bormann que tem a finalidade de aumentar a resistência da córnea, mas ainda necessita de mais estudos para aprimoramento de técnica e de melhor avaliação de seus resultados.

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